Não existe amor a toa.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Se debater é afogar-se.


Pisco os olhos e minhas pálpebras são tão pesadas que eu demoro horas pra conseguir ergue-las de novo. Mas não são horas de verdade e sim segundos que passam numa vagareza cruel que me machuca e transforma a minha dor em coágulos que não consigo dissolver, como se eu tentasse, eu não tento, minha dor é pura resignação.

E nesses segundos entre o abrir e fechar do olho, enquanto o breu cobre parcialmente o que eu vejo, parcialmente porque a claridade não deixa que o negro tape minha visão completamente, eu só consigo pensar em Você, e no feixe de coisas que vivi com Você. Nessas cenas mal focadas, Você sempre me aparece sorrindo da mesma maneira que sorria quando estava a sós comigo, mãos sempre muito frias e suadas que me deixavam intrigada em pensar como podiam ficar sempre tão frias e suadas? Seu queixo rasgando o ar quando você gargalhava tão alto e rouco que me dava vontade de rir também, e eu ria junto exatamente da mesma maneira que eu dou risada agora, com os olhos sempre fechados pra não ver o destino, mas não exatamente do mesmo jeito, não sentindo exatamente as mesmas coisas que eu sinto agora, essa mistura de saudade-dor-apatia-certeza. Certeza de que eu tenho que ir mesmo, indepedente do praonde e do porquê, eu só preciso sair desse lugar o mais rápido possível, antes que esse mar de evidências inunde tudo isso aqui e me afogue.

Você não teve tempo de me ensinar a nadar. Mas com esses olhos fechados, com esses malditos olhos fechados e essa sua gargalhada ecoando dentro da minha cabeça e chacoalhando meus pensamentos como num liquidificador, comigo mergulhando fundo no mar como os bolsos cheios de pedras pesadas pra não boiar nem depois de morta, pra que ninguém me consiga ver nem depois de morta como você não me viu a vida toda, Você com seu queixo ridículo e sua gargalhada ridícula e sua vida perfeita ridícula.

E mesmo assim, com o ar rareando nos meus pulmões, mesmo assim e ainda assim, sua cara seu cheiro seu gosto sua ausência me envolvendo como o líquido amniótico envolve um feto, só o barulho do borbulhar do ar que me ainda me resta e me escapa, só o barulho da sua gargalhada cada vez mais longe longe longe e eu afundando como se fosse leve leve leve.

A única e última e mais absolutamente importante coisa que eu penso nessa vida é por que Você não me ensinou a nadar? como se de alguma forma isso fosse me salvar do feixe de coisas que não viverei com Você.

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