Não existe amor a toa.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mãe ...


Eu nunca vou esquecer desse cheiro. Esse cheiro das mãos dela, uma mistura de sabão com água sanitária, o cheiro daquelas mãos macias que me afagavam os cabelos e segura forte o meu rosto pra me beijar as bochechas. Cheirar, ela diz que cheirar é mais bonito que beijar, porque você sente o cheiro da pele do outro. Eu lembro que passava tardes sentada ao lado dela, vendo-a lavar as roupas minhas e dos meus irmãos, esperando o último enxágüe pra poder chupar as peças de roupa antes de estender. Eu acho que ela não achava aquilo muito saudável, mas eu gostava e ela fazia tudo pra me agradar. Ela fazia tudo pra que eu tivesse tudo que pudesse me dar, e o que não pudesse também, parece que a expressão “das tripas coração” foi feita especialmente pra ela. Eu lembro também das muitas e muitas lágrimas que vi escorrer pelo rosto dela, algumas de alegria, muitas de tristeza. Não entendia metade delas, eu cresci vendo minha mãe chorar por tudo e por todos, sem nenhum motivo aparente, então pra mim era algo comum. Mas agora eu sei que as lágrimas que ela derramou por besteiras eram só pretextos pra esconder os reais motivos de tanta choradeira. Minha mãe sofreu por coisas que ela nem mesmo sabe. Meu espelho. Eu vejo a figura da minha mãe lendo um romance, óculos apoiados no nariz, pernas estendidas displicentemente sob o sofá, esperando o chamado de um dos filhos pra largar tudo e atender, e vejo como eu serei amanhã. Não tão branca, não tão jovem, não tão linda, não tão altruísta, mas com a mesma essência. E nada me orgulha mais do que a possibilidade de ser ao menos metade da metade do que ela é. Meu orgulho. Mãe, melhor amiga, professora, companheira. Meu tudo. Só uma coisa, eu não sei se eu conseguirei ser tão forte. Ser tão guerreira, ser tão raçuda a ponto de conseguir cuidar de si, duma casa e de filhos não tão exemplares assim. “Filhos maravilhosos, você e seus irmãos, minha vida”, ela diz. Mas eu sei que ela merece mais, muito mais. Uau, mãe! Quem dera ser eu que nem a senhora! Não só compartilhar o mesmo sangue, o mesmo signo, o mesmo gosto, mas também essa coisa que te faz levantar todos os dias pra sobreviver. E seria pedir demais querer ter nas mãos o mesmo cheiro e a maciez das suas, e querer ter o colo tão quente e olhos tão puros quanto os seus? Eu te amo mãe. Te amo, e tenho o maior orgulho do mundo de ter nascido filha sua. Só não me manda arrumar o guarda-roupa de novo que eu posso mudar de ideia...

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